Guia Rápido #14: Percevejo-Verde-Pequeno, o percevejo que causa os danos mais severos na soja.

Foto: Pragas.com

O Piezodorus guildinii (Westwood, 1837) é um percevejo nativo da Região Neotropical, que ocorre desde os Estados Unidos até a Argentina. É a praga mais abundante e de maior importância econômica no Uruguai. No Brasil era pouco encontrado até a década de 1970, mas atualmente tem ampla distribuição, ocorrendo tanto no sul como nas regiões produtoras de soja do norte e nordeste do país. É uma espécie oligófaga que adaptou a sua alimentação com a cultura da soja. mas também é encontrada em guandu, crotalárias nativas, e em especial nas várias espécies de anileiras (Indigofera spp.). Popularmente é conhecido como Percevejo-Verde-Pequeno, Verdinho ou Percevejo-Pequeno-da-Soja.

As fêmeas adultas de Piezodorus guildinii ovipositam massas de ovos em formato de “barril” com coloração preta, dispostos em filas duplas, com cerca de 14 ovos por postura. A oviposição é feita preferencialmente nas vagens, mas podem ser encontrados na face ventral ou dorsal das folhas, no caule e nos ramos. Esta fase dura em torno de 5 dias.

As ninfas recém-eclodidas do Percevejo-Verde-Pequeno (P. guildinii) medem apenas 1 mm. Inicialmente, apresentam coloração preta e avermelhada, depois conforme avançam no ciclo aparecem manchas vermelhas e laterais verdes;  e no último ínstar apresentam pontuações no centro e nas laterais, com coloração esverdeada. Nos primeiros ínstares as ninfas possuem comportamento gregário, que reduz a partir do quarto e quinto ínstares. O período ninfal dura em torno de 21 dias e durante o seu desenvolvimento as ninfas podem mover-se por até 12 m do ponto inicial, mais no sentido longitudinal do que no sentido transversal das fileiras de soja.

Os adultos de P. guildinii são de coloração verde clara, podendo se tornar amarelados no final da vida do inseto. Possuem uma lista transversal marrom-avermelhada no pronoto (próximo à cabeça) e medem por volta de 9 mm de comprimento.

Esses percevejos completam o desenvolvimento de ovo a adulto em torno de 24,4 dias, com as durações das fases ninfais variando de 3 a 6 dias.

Há estudos que indicam que P. guildinii é a espécie mais prejudicial para a cultura da soja, pois causa retenção foliar anormal nas plantas e maiores danos na qualidade das sementes (maior severidade), devido a sua picada ser mais profunda e a lesão possuir tamanho maior (devido a área maior do canal alimentar de P. guildinii). É conhecido que o modo de inserção e a retirada dos estiletes podem causar diferentes graus de destruição de tecidos da soja, e estudos dão indícios de que a ação deletéria das suas enzimas salivares para os tecidos da semente são maiores em comparação com outras espécies de percevejo. Apesar disso, o dano causado por P. guildinii não tem relação com o comprimento dos estiletes, pois esta espécie tem aparelho bucal mais curto, em comparação com Nezara viridula e Euschistus heros.

Porém, por se tratar de espécie olífaga, os parâmetros biológicos mudam dependendo da planta do qual os percevejos se alimentam. Por exemplo, o número total de ovos por fêmea pode variar de 28 em soja a 200 em Indigofera hirsuta e 500 em Indigofera truxillensis. Outro exemplo é a longevidade dos adultos, que pode variar de 50 dias em soja a 90 dias em algumas espécies de anileira.

 

Danos

Os percevejos atingem a cultura da soja no início do florescimento e se alimentam das hastes, ramos, vagens e grãos. Quando atacam hastes e ramos, ocasionam o distúrbio fisiológico conhecido como “soja louca”, que faz com que as regiões da planta que foram atacadas permaneçam verdes, enquanto que as vagens secam.

Porém, o período mais crítico é durante a formação das vagens e início do enchimento de grãos, quando a soja está mais suscetível. Nessa fase a população de P. guildinii cresce de forma elevada e atinge o pico populacional próximo ao final do enchimento de grãos e maturação fisiológica. Quando os percevejos se alimentam das plantas de soja nesta fase reprodutiva, podem causar murcha e má formação das vagens, podendo haver abortamento ou redução da massa de grãos; retardamento da maturação; transmissão de patógenos; redução do vigor das sementes; redução da qualidade e produtividade dos grãos, principalmente devido a redução do teor de óleo.

 

Controle

É recomendado iniciar o monitoramento de P. guildinii no período de enchimento de grãos até a maturação fisiológica, pelo menos 1 vez por semana, com pano-de-batida vertical em 1m2, precisando o número de pontos amostrados de acordo com o tamanho da lavoura.

O controle deve ser realizado quando forem encontrados 2 adultos ou ninfas de 3° a 5° ínstar por metro linear. São consideradas ninfas grandes as maiores do que 0,3 cm (3°, 4° e 5° ínstar). Porém, se a lavoura estiver destinada para a produção de sementes, o controle deve ser efetuado com 1 percevejo adulto por metro linear.

O método de controle mais utilizado para esta espécie é o químico. Para a aplicação, recomenda-se o uso de um produto registrado para o controle de P. guildinii em soja dentre esses grupos químicos: neonicotinoide, piretroide, organofosforado, sulfoxamina, fenilpirazol, éter difenílico ou metilcarbamato de benzofuranila. O produto deve ser pulverizado nas horas mais frescas do dia.

 

Pesquisas com Piezodorus guildinii

O avanço de novas opções de controle de P. guildinii depende da disponibilidade de insetos em laboratório com ótima sanidade, qualidade e com padronização de alimentação e ambiente, o que favorece o resultado das experimentações agrícolas e auxilia para que as pesquisas possam ser concluídas sem ficarem dependentes de ocorrências naturais.

Na Pragas.com fornecemos espécimes de P. guildinii para estudos relacionados ao controle deste percevejo. Além disso, fornecemos uma série de insumos como bandejas e gaiolas para viabilizar as pesquisas agrícolas e acelerar o desenvolvimento de tecnologias para o controle de P. guildinii.

 

Este artigo teve como referências:

http://www.cnpso.embrapa.br/artropodes/Capitulo5.pdf
https://maissoja.com.br/piezodorus-guildinii-eficiencia-nas-misturas-e-volume-de-calda/
https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-204X2005001100003&script=sci_arttext&tlng=pt
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/461048/1/circTec24.pdf

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