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Se pensou na Broca-da-cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), acertou!
A Diatraea saccharalis é uma espécie de mariposa da família Crambidae. Esta espécie é nativa do Caribe, da América Central e das partes mais quentes da América do Sul e do sul ao norte da Argentina. Foi descrita por Johan Christian Fabricius em 1794.
Os adultos desta espécie são mariposas com 25 milímetros de envergadura, que apresentam asas anteriores de coloração amarelo-palha com duas linhas transversais escuras e as asas posteriores esbranquiçadas.
As fêmeas fazem posturas contendo de 5 a 50 ovos nas folhas ou bainhas da cana-de-açúcar, em geral na face abaxial. Cada fêmea oviposita por volta de 700 ovos durante a vida, quando o inseto se desenvolve na cana-de-açúcar ou no milho. Os ovos são achatados, com aproximadamente 1,16 mm de comprimento e 0,75 mm de largura e seu período de incubação é de 4 a 6 dias. Inicialmente são de coloração branca e vão ficando escuros conforme vai chegando próximo da eclosão.
As lagartas neonatas se alimentam do parênquima celular das folhas e penetram no colmo pela parte mais tenra formando galerias, após a primeira ecdise. Quando desenvolvidas, as lagartas medem entre 22 e 25 mm e apresentam coloração amarelo-pálida e cabeça marrom. Essa é a fase de maior duração, que vai de 40 a 60 dias.
As pupas são de coloração castanha e se formam dentro do colmo, fase que dura de 9 a 14 dias. Após emergir, o adulto sai pelo orifício feito pela lagarta.
O ciclo de vida total desse inseto-praga geralmente é de 53 a 60 dias, podendo ocorrer até 4 ciclos por ano, distribuídas em outubro e novembro, dezembro e janeiro, fevereiro e abril e em maio e junho. Eventualmente, um quinto ciclo pode ocorrer, caso as condições climáticas se apresentem favoráveis.
Ocorrência
A espécie está presente em todo o território nacional e também em outros países da América do Sul, Central e Norte. No Brasil a região Centro-Sul é a mais afetada, devido a maior concentração de cana-de-açúcar e clima favorável ao seu desenvolvimento, pelas altas temperaturas e grande quantidade de chuva. D. saccharalis ocorre o ano todo, em geral com maiores níveis populacionais na primavera e no verão. A principal cultura de incidência da praga é a cana-de-açúcar, mas também ocorre na cultura do milho, arroz, pastagens, sorgo e trigo e outras culturas, em geral gramíneas, sendo considerada uma praga polífaga.
Danos
A D. saccharalis causa danos diretos e indiretos, causando grandes prejuízos na cultura da cana-de-açúcar, uma das principais culturas do agronegócio nacional, por isso é uma das espécies de maior importância econômica. Esse inseto afeta a produtividade do canavial e também a qualidade da produção de açúcar e álcool, por isso as perdas que essa praga causa são consideradas acumulativas.
Os danos diretos são causados quando a broca-da-cana (D. saccharalis) infecta a planta em seu estágio larval. Em um canavial infestado, os primeiros sinais ocorrem no terceiro mês após o plantio ou logo depois do corte da cana. Um desses sinais é o secamento das folhas, no caso da D. saccharalis causar a morte da gema apical (coração morto). Esse dano também desestabiliza a planta fisiologicamente e ocasiona o enraizamento aéreo, quando as raízes não ficam completamente debaixo da terra, e brotações laterais, que reduzem a qualidade da matéria-prima.
O dano direto de maior impacto causado pela broca-da-cana (D. saccharalis) é no interior do colmo, com as “galerias” que são formadas de baixo para cima pela sua alimentação dos tecidos do caule da planta. Além de prejudicar o desenvolvimento da cana e a perda de açúcar com galerias longitudinais, também podem criar galerias circulares, que causam a quebra das canas e aumento mais significativo nas perdas de produção e teor de açúcar.
Sobre os danos indiretos, a D. saccharalis facilita a contaminação do colmo por fungos como Fusarium moniliforme e Colletotrichum falcatum pelos orifícios de entrada das lagartas. Esses fungos causam a doença conhecida como podridão vermelha, que reduz o teor de açúcar por desencadear o processo de inversão da sacarose.
Controle
A melhor forma de controle de D. saccharalis é realizando o manejo integrado (MIP). No MIP, é muito utilizado o controle biológico de forma preventiva com os parasitoides Cotesia flavipes (lagartas) e Trichogramma galloi (ovos). É importante realizar o monitoramento da D. saccharalis nos canaviais de três a quatro meses após o plantio e de dois a três meses após cada corte da cana para avaliar a ocorrência de broca e a necessidade de reaplicação dos parasitoides.
O monitoramento da espécie no canavial pode ser feito por leitura direta (inspeção das plantas) ou por meio de armadilhas. O método de leitura direta é mais utilizado para avaliação da quantidade de lagartas, onde são realizadas amostragens em dois pontos por hectare, verificando a população do inseto em duas linhas de cinco metros de cana em cada ponto (totalizando 20 metros e 20 canas amostrados por hectare). Nessa amostragem, é feita a análise dos entrenós, cortando longitudinalmente os colmos e efetuando a contagem do total de entrenós e da quantidade de entrenós danificados pela broca. Essa análise dos entrenós gera o parâmetro chamado Intensidade de Infestação (I.I.). Para cada 1% de I.I., ocorrem perdas médias de 1,21% na produção de cana. Se o I.I. estiver em nível igual ou maior do que 3%, é imprescindível entrar com controle de Cotesia flavipes, parasitoide de lagartas. Este parasitoide tem melhores resultados na época seca e fria, que possibilita melhores voos do inseto e nível de parasitismo de 30 a 40%.
Já o monitoramento por meio de armadilhas é a maneira mais fácil e menos onerosa para levantamento da população de adultos (mariposas) de D. saccharalis. Com a armadilha delta, identificamos o pico de adultos e a presença de ovos na área. É utilizada 1 armadilha para até 50 hectares, sendo que em cada armadilha são utilizadas de 2 a 4 fêmeas virgens ou feromônio sexual sintético, como atrativo. A avaliação das armadilhas pode ser realizada com 3 e 7 dias após a instalação. Nesse caso, o controle será realizado com Trichogramma galloi, a partir de 10 mariposas por armadilha. O controle com Trichogramma galloi é mais eficiente no período úmido.
O custo do manejo com parasitoides varia, mas estima-se um valor de R$80,00 por hectare, dependendo do nível da infestação no canavial. Armadilhas luminosas também podem ser utilizadas, com eficiência de até 87%.
As perdas em açúcar e álcool são medidas pela ocorrência de broca-da-cana e podridão vermelha nas plantas danificadas e levadas para manufatura nas indústrias. Com o índice de 1% de Intensidade de Infestação, estima-se perdas de 0,38% na produção de açúcar e 0,27% de perda na produção de álcool, equivalentes a 35kg de açúcar e 30 litros de etanol por hectare, ocasionando perdas de R$ 5 bilhões por safra.
Para o controle químico, podem ser utilizados inseticidas granulados, que tem menos efeitos sobre os inimigos naturais. Em cereais, pode ser realizado o tratamento de sementes com inseticidas sistêmicos ou pulverização dirigida para a base da planta com inseticidas de efeito de profundidade e/ou de ação translaminar.
Algumas novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas para o controle da broca-da-cana (D. saccharalis) são as canas transgênicas, com a proteína Cry de Bacillus thuringiensis (Bt), que tem efeito tóxico no inseto. Um exemplo é a Cana Bt (CTC 20 Bt), que foi desenvolvida para ser resistente à broca da cana. Essa tecnologia é interessante por reduzir a aplicação de agrotóxicos na cultura, sendo um fator interessante do ponto de vista ambiental.
Pesquisas com Diatraea saccharalis
As pesquisas de desenvolvimento de novos produtos biológicos ou químicos para o controle de D. saccharalis se beneficiam da criação dessa espécie em laboratório, para que os trabalhos não fiquem dependentes da ocorrência natural em campo e nem sofram descontinuidade. Além disso, os exemplares dessa espécie criados em laboratório garantem melhor padronização da pesquisa, devido as condições homogêneas de temperatura, ambiente e alimentação da criação.
Na Pragas.com mantemos uma criação de D. saccharalis de modo a fornecer os insumos necessários para as pesquisas básicas e aplicadas, além de armadilhas delta para monitoramento, dieta artificial própria para esta espécie, bandejas e gaiolas para viabilizar as pesquisas agrícolas e acelerar o desenvolvimento de novas tecnologias para o controle da D. saccharalis.
Este artigo teve como referências: https://www.novacana.com/n/cana/colheita/broca-cana-8-fatos-praga-atinge-canaviais-110117 https://www.novacana.com/n/cana/variedades/variedade-cana-produz-biopesticida-natural-contra-principal-praga-cultura-1803201ª cana transgênica do Brasil é aprovadahttps://www.corteva.com.br/boas-praticas-agricolas/blog/broca-da-cana-de-a%C3%A7%C3%BAcar.html https://www.agrolink.com.br/problemas/broca-do-colmo_375.html https://www.udop.com.br/noticia/2020/3/18/variedade-de-cana-produz-biopesticida-natural-contra-a-principal-praga-da-cultura.html